Na hora eu grávida já vesti o macacão de mãe fodona corajosa e pensei com minhas entranhas, prfff, chorar por causa de uma injeção ainda por cima um dia antes é coisa de mulherzinha desequilibrada. Há. A vida, que não é boba nem nada me respondeu alguns meses depois com um categórico tôma! Ninguém tinha me dito que eu ia fazer isso todo mês durante os primeiros sete meses de vida do rebento, e muito menos que ele ia pegar uma virose tão parecida com dengue que eu teria que tirar sangue, pra encher TRÊS cilindros daqueles enormes inteiros, de um bracinho tão miúdo que ai meu coração.
A gente entra em pane quando descobre que o feijãozinho já foi plantado e tá todo lindo ali germinando, a gente se sente mal e se sente mal por estar se sentindo mal, a gente pensa até em aborto, e nem adianta vestir o tal macacão da superioridade porque pensa sim. E depois que tudo se acerta, que o pinininho nasce e abre aqueles olhinhos todo enroscado em você, começam a espetar ele todinho!!
Se não rolar um preparo emocional, a gente logo vira mulherzinha desequilibrada. Ver aquele recém nascido arroxear feito repolho no modo bocão aberto eternamente on, e sem sair um som daquilo tudo denunciando a total perda do ar naqueles segundos intermináveis já basta pra vovó neurótica ficar gritando assopra a cara dele! assopra! A gente não assopra, e calmamente fala filho, a dor vai passar e vai ficar tudo bem - beijinho na cabeça. Mas o coração chora e a garganta aperta, e se as lágrimas rolarem, tudo bem. Você vai aprender a controlá-las com o tempo, e talvez o mecanismo de defesa do seu organismo pra não chorar na hora da picada bem na frente do seu filho, seja exatamente o de chorar o dia anterior inteiro. Como minha colega ali de cima. (Bem que mamãe sempre diz não cospe pro alto...).
Mais uma dificuldade pras mães solteiras. Provavelmente, você vai passar por muitas situações de ter que levar o filho ao médico ou para tomar vacina sozinha, porque nem sempre sua mãe vai poder te acompanhar, ainda mais se ela não for aposentada como a maioria das vovós de cabelo branco. E nem sempre vai poder contar com o pai dele. Então é muito importante lembrar que seu bebê é feito esponjinha que suga toda a energia que o cerca, e que sua tranquilidade nessa hora é fundamental pra ele. Imagina só a criança morta de medo daquele ambiente que só traz recordações associadas à dor, olhar pra cima em busca de algum conforto e encontrar a sua cara torta de quem tá no chuveiro de psicose!
E se você realmente não conseguir disfarçar, deixe que outra pessoa o acompanhe, de preferência alguém que tenha uma relação de confiança com a criança.
São situações que podem te esvaziar. Tirar sangue do bracinho pesou, exauriu, esgotou e fez o dia todinho cinza. Se der pra não ir sozinha, escolha sempre essa opção. Se não der, não se preocupe.
Um dia você vai chegar toda tensa na sala médica sabendo que vai ter que prender segurar seu menino que agora parece um polvo com aqueles bracinhos ágeis e fortes na cadeira pra moça enfiar a agulha ali bem perto do ombrinho, e ele ca-gar um balde e nem se incomodar com aquilo tudo!
Mamãe quase desmunheca de tanto orgulho do seu pequeno grandão e fica toda prosa cantando parabéns e tudo. Olha! ele nem chorou, virou um homenzinho - diz pra enfermeira!
Não, é que essa injeção não dói mesmo.
Hunf!