segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

meu medo, seu medo.


Ser mãe tem dessas coisas, é dificil saber onde começa um e termina o outro. A gente as vezes se embola com o que se deve passar adiante lá pra fora, e o que devemos guardar pra si no mais lá dentro possível.
Limite. Medo.
Você tem medo de que?
Eu? Morro de medo desse trepa-trepa em forma de arco.
Quando Gael ainda estava se familiarizando e não conseguia fazer a manobra radical lá em cima pra virar o corpinho e descer o pedaço que faltava, eu, levadora oficial das pracinhas, pensei: melhor é eu mostrar como faz.
Eu morro de medo do trepa-trepa e ainda assim resolvi fazer uma demonstração. Conjugando eu demonstrar.
Rapidinho completei a subida e já la em cima pensei: burra. E agora? Vai cair daqui e traumatizar seu filho pro resto da vida.
Deu vertigem, não lembrava que dava pra ter medo assim de cair e se machucar sem ser metaforicamente falando.
Ele ali debaixo olhando atento, fui logo.
Troquei os pés pelas mãos mas não caí. Desci, e fiquei la de apoio pra qualquer decisão que ele tomasse.
Quando meu filho se mostra inseguro eu respeito, cada um tem seu tempo e tento guia-lo no apredizado do dele. 
Eis que me aparece um parquinho com um trepa-trepa estilo créu velocidade 5, com 4 escadas coladas umas nas outras sendo duas com um espaçamento de dois metros entre cada ferro, sendo eu mãe de um macaquinho.
Fiquei bem longe.
Uma menina caiu, os pais correram e mandaram que ela saísse de lá.
Pouco depois três meninas grandinhas vinham correndo alegres, e atrás uma mãe desesperada. Disse: filha, pega tua irmã e saiam daqui. Esse brinquedo é muito perigoso. Muitas crianças subiam por uma ponta e se esbarravam la em cima com oura que havia subido pela outra. Me identifiquei no nervoso dela, ser mãe tem dessas coisas, é dificil saber onde se começa um e termina o outro.
Aquela mãe viu um limite dela ser ultrapassado e provavelmente por isso nem enxergou que impediu sua filha de descobrir até onde ia o seu próprio.

Pra ensinar a ser livre, muitas vezes temos que aprisionar nossos medos e receios, torcendo pra que um dia, de tanto presos, eles fujam.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

um, dois, t r ê s...

o dia ja acodou.
Acordamos juntos. 
hoje é o meu anivesario! tantas vezes quanto bate mais acelerado seu coraçãozão.
O tempo voa enquanto ainda canto seus três parabéns, mas em troca, ele tem me ensinado a voar.
Um é pouco, dois é bom, três é demais. 
- filho, você esta demais. Tanto, que não moro mais em mim. 
O infinito aqui de dentro hoje cabe inteiro num potinho de biscoito, daqueles que fazemos juntos.
Eu transferi boa parte de mim pra você, e meu coração agora bate pra fora.
Você me fez entendedora de coração.
Filho, você também é meu melhor amigo.

Filho, o infinito é você.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Rebelião, e um pedido de desculpas

Uma vez uma mãe leu um post aqui no Me Conta, e ao me encontrar na pracinha disse:
Você tem um blog? Que legal!! Como você consegue?
Eu: escrevo quando da..! Pensando: ah! escrever flui quando se tem tanto assunto quanto uma mãe solteira jovem desorientada e exausta de primeira viagem, acabo digitando super rapido e nem demoro tanto pra escrever um texto, o que torna postar regularmente muito mais facil.
Mas é claro que eu não ia filosofar tanto com a colega da pracinha, até porque o meu pequeno homem-aranha acha muito mais divertido subir no escorrega das crianças grandes pela tabua de escorregar ao invés de usar os degraus da escada, que se fossem de outra escada qualquer, ele se jogaria no chão e faria aquele escândalo que quem não é mãe adora julgar ao presenciar a cena, se eu tentasse impedir!

Refletindo sobre o escrevo quando da...
Tava dando. Até que o pequeno resolveu começar a experimentar os escândalos ai de cima.
E a comprovar ferrenhamente minha teoria de que ele é hiperativo.
E eis que conclui: é, começou a rebelião.

Imagina andar pela primeira vez. 

Imaginou?

Deve ser quase como aprender a voar. Uma pena que a gente esquece.
Mesmo com o medo, ficar de pé e conseguir ir sozinho aonde você quiser pode ser o passo mais importante na conquista da sua indiviualidadezinha (sem pejorativos). Dominar esse novo espaço, passear, tocar um outro nivel, ter outra perspectiva daquele seu mundo.
E correr? Sentir o vento nos cabelos, a velocidade tomando conta daquele corpinho, suas mãozinhas tocando a bola que rola depressa uma distância enoooorme, o sorriso sempre no rosto...

Agora imagina que você decidiu pra onde quer ir, comunicou aos seus pés, que comunicaram ao resto dos musculos, que resolveram que valia o esforço, e foram. 
Imagine então um obstaculo.
Um corpo grande, que se mexe rapido, e que tem força o suficiente pra te carregar no colo.
Imagina que você se esquiva, corre, mira o objetivo final, decide continuar e: aquelas mãos te erguem do chão! 
Eu xingaria.
Eles choram.
O meu anda fazendo birra.
E as vezes a frustração é tanta que ele chega a fazer cara de raiva no meio do choro e vir com as mãos de monstrinho agarrar a primeira coisa em mim que alcance, na tentativa de se livrar daquele obstaculo de qualquer maneira. Na tentativa de se livrar de mim.
O se jogar no chão pra chorar e fazer força pra não seguir pra onde queremos que eles sigam é fruto dessa confusão que deve ser enxergar a figura mãe amor supremo quase uma extensão do eu deles, virar o maior impedimento daquela vontade grande de seguir pro outro lado, de fazer o que não pode, de experimentar o que der na telhazinha, de tocar o intocavel, de ser totalmente livre.
E eles são.
A gente planta a sementinha, colhe, faz crescer, até que chega a hora de podar.
E olha, é tanta folhagem pra cortar que as vezes cansa.
Sinto como se tivesse costurado o não na lingua.
E acaba sendo confuso pra gente também. Sera que temos que reprimir tanto? Sera que devemos dizer tantos nãos? Sera que merecemos essa carinha de raiva de uma coisa tão miudinha pela qual nutrimos tanto amor?

Sim.

Porque eles merecem ter limites, eles merecem aprender a lidar com todos esses sentimentos, merecem se tornar adultos tranquilos, do bem, livres. 
Que pra tirar, precisa se aprender a colocar. Que pra ter, precisa se aprender a perder. 
Porque a liberdade começa quando sabemos que podemos ir, se soubermos voltar. 
E ai vamos pra onde quisermos, quando quisermos, como quisermos. 
Mesmo que queiramos depois voltar para dentro de nos mesmos, ou que não queiramos voltar jamais.

Eu fui, e hoje quis voltar.
Praqui, pra dividir, pra somar...
Desculpa pela demora, a quem estava esperando uma leitura nossa.
E desculpe o texto sem assentos para os olhos repousarem - me restou foi um teclado francês, que aceita o circunflexo, mas que acentua agudamente somente o é, è pros dois lados, e o à presse lado so que usamos bem pouquinho.

Pelo menos nos sobrou o til do não!




quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Coração de pai.

Confesso que fiquei em dúvida sobre fazer um post em homenagem aos pais depois do dia dos pais, ou às mães solteiras depois do dia dos solteiros. Como hoje existe até o dia da arara azul, resolvi seguir a tradição, e fazer jus aos papais de primeira, segunda, terceira viagem, novos ou velhos, velhos novos ou novos velhos pais. E também porque claro, o vovô já tava começando a ficar chateado com tantos protagonistas indo e vindo e ele só ali, na vida real, sem ter participação nesse espacinho virtual que ficou abandonado por um tempinho devido a complicações no tec tec do teclado.

É aqui que todo pai modernoso ligado nesse mundo internáutico deveria ir de vez em quando pra se divertir, descontrair, trocar experiências e rir um pouco da (des)graça de cuidar de um pequeno probleminha lindo, ou dois. E foi lá mesmo que encontrei o primeiro post dedicado aos pais escrito por um. E nele, era óbvio, que viriam as reclamações sobre como não se consegue descrever o que é ser pai.
Porque o que é ser mãe é fácil né?! Padecer no paraíso. Há. Mole.
Parir, alimentar, acordar à noite (toda noite), se anular, ser o outro. Doação. Amor de mãe, incondicional.
Mas peraí, foi dia dos pais.
E ser pai é...

Depois de muito pensar, sem ser de fato um pai (apesar de saber que muitas vezes assumimos o papel de um), escolhi

C o m p a n h e i r i s m o.

Ser pai é ser companheiro.
Ser pai é ser companheiro da mãe do seu filho (mesmo que ela não seja sua mulher), da sua mulher, da sua família, do seu filho.
Papai é super herói que usa sempre capa lá dentro da gente, mesmo depois que crescemos todos e ele fica meio ranzinza. Não importa se ele usa terno, sunga ou bermuda, suspensório, tênis, sapato ou chinelo, chapéu, careca reluzente, peruca com ou sem óculos, barrigudo cervejeiro ou tanquinho de geração saúde. Ele vira o homem-coração mais forte do mundo e que ainda por cima voa, na cabeça de qualquer menino ou menina que a gente é, seja do lado de dentro ou de fora. Ser pai é escolha. É aprender a entender a mudança, é aceitar a transformação de uma mulher que vira outra e ainda assim consegue ser a mesma, é aumentar o tamanho dos braços pra caber todo mundo lá dentro, é rasgar o coração todinho prum amor que é maior do que tudo. Um amor menos egoísta que o amor da mãe, que faz bater um coração cego que só enxerga a cria. Amor de pai se estende e leva a mãe todinha junto. 
Papai faz da gente malandro, ensina a fazer estilingue e a chutar bola, ensina a pegar jacaré, brinca de luta e imobiliza a gente no sofá até pedir pinico, ensina a tocar guitarra e bateria e a gostar de sexo drogas e rock'n'roll, nos ensina que se for pra fazer merda, é pra fazer direito. Mas aquele pai que é de ouro, ensina que ser macho é invenção da carochinha e que todo homem chora sim.
 
P a i - vagarinho pra dar tempo de caber em palavra tão curta o todo que ela representa em nossos corações. O meu pai, na minha entonação, pra bater certinho com o tum tum que faz viver.
O pai do meu filho, no vagarar do coração dele, pra entender que rasgar o coração pra caber mais amor não deve doer. O pai de todos os nossos filhos, no tempo do coração deles dois, pra construir casa que não desaba nem com o maior furacão de todos, a ausência.

Pais, feliz dia dos pais atrasado. De coração. De quem deseja que a escolha de vocês seja sempre o seu filho. De quem deseja ver um mundo bem mais cheinho de pais que dão a mão e não soltam por nada nem ninguém. De companheiros pruma vida inteira.

Um beijo.















terça-feira, 31 de julho de 2012

pra você eu digo sim, sempre.

G e n t i l e z a



e podia parar por aí.
porque que Gentileza gera Gentileza, o Gentileza já fez questão de avisar aos desavisados.
mas é a Gentileza que parou de gerar Gentileza, ou é a falta de Gentileza que impede de rodar esse ciclo tão .. gentil? 
se ninguém cultiva a prática, ela fica extinta. feito vários animais de nossa fauna, feito espaço verde em área urbana, feito tantas tradições que não cabem mais nessa contemporaneidade transviada.
Gentileza virou artigo raro, e mesmo assim, parece ainda não ter valor nesse nosso mercado.
mas sei, mesmo que pra poucos, que ainda brilha mais que ouro. só por isso não perdi as esperanças.
só por isso conto pra vocês o que é que nossa amiga, essa que tá sempre fazendo carinho nos corações de todos nós, tem a ver com a maternidade: tudo.
porque maternidade é vida, vida é amor, e amor quando não é gentil, não é.
porque maternidade é amor, amor é vida, e vida quando não é gentil, amarga.

na pracinha tem um cercado para os bebês. de vez em quando o davi vai lá. deve ter uns cinco, seis anos.
a avó do davi não entra pela portinhola. fica em pé do lado de fora, com sua estatura mínima, seus óculos escuros maxi, e seu cabelo curtinho pintado quase feio.
quando o davi faz besteira - ele faz sempre malcriações com cara feia de criança que esconde aquele apelo desesperado por um pouquinho de atenção da mãe pai avó ou avô - a avó do davi não faz a Gentileza de entrar naquele espaço dele, não faz a Gentileza de participar do mundinho que ele criou mesmo que para desensinar aquele invencionismo torto de quem só quer atenção, ela não faz a Gentileza de estender-lhe sua mão. a avó do davi não mexe um músculo que não o da boca, para gritar num tom alto demais daviii, tantas vezes quanto acharem necessário seus ouvidos semi surdos (dedução lógica, pois quem tanto grita acaba ensurdecendo). o davi aproveita, ao menos ela o está chamando, e não vai.
eu contava uma história protagonizada pelo meu menino, que nada tem no nome de davi. mas o daviiiii ecoou tanto em nossos ouvidos, que sem Gentileza alguma, impregnou o ar da pracinha, e não é que troquei feito vó que confunde o nome dos netos com o dos filhos e até o do cachorro o nome do meu filho pelo nome do davi?


na rua, atravessando com o carrinho, andava ao lado de uma senhora que dava as mãos para o netinho.
esse não sei o nome, mas quase que as entranhas o chamam de davi.
ele deve ter percebido o cachorrinho que passava, pois foi quando as quatro patinhas quase encostaram o pézinho que as mãozinhas começaram a puxar a mão enrugada da avó: vó, vó, vó, vovó, vó, vó... 
ela conversava com uma colega de bairro, e estava ignorando o apelo do neto, que quanto mais percebia o cachorro se afastando, mais rápido puxava a mão que sua vó o dava, quase que por obrigação de quem cresceu escutando que criança não pode atravessar a rua só. ele não queria que a avó perdesse aquele evento. e continuou um pouco mais: vó, vó, vpéraííí meniiiinoooo, não tá vendo que eu to conversaaando??!! num grito mais repentino que cocô de pombo na cabeça, que fez todo mundo que ainda não tinha visto, ver.
dei quase um pulo, do susto que tomei. afinal, ninguém espera um grito ao atravessar uma rua. é até perigoso. uma falta de Gentileza com todos os pedestres.

a avó do davi, e a avó do menino que se encantou pelo cão, deviam já estar cansadas.
criança exige muito, é um dispêndio enorme de energia, que dói mais quando a idade pesa.
a avó do davi e a avó do menino que se encantou pelo cão, deviam já estar cansadas.
ouvir qualquer um chamar seu nome repetidamente, mesmo que num sussurro, irrita.
ter que dizer pela milésima vez que aquele gesto repetido não é aceitável, irrita.
mas ter que conviver com um adulto que tem um coração que não sabe ser gentil, dói.
é feito palavra de madeira que bate sempre dura lá dentro de quem a recebe.
a falta de Gentileza enrijece o único tônus muscular que deve mesmo ser amolecido com o tempo, o mundo fica todo mais cinza, a mentira faz caminho e dá as mãos ao amor, e ajuda a formar famílias despreparadas pra ensinar o carinho e o respeito. o fruto que nasce do ventre de novos tipos de estrutura familiar muitas vezes sofre com a falta. e não podemos culpar o despreparo.
ninguém está preparado pra ser pai ou mãe até ser. então a falta de preparo por si só não justifica a falta na educação. falta de paciência, falta de amor, falta de carinho, falta de respeito, falta de cuidado com uma relação que está nascendo, falta de desejo de compartilhar, ouvir, ensinar, aprender, falta de dedicação, falta de compreensão, falta de saber falar, falta de educação.
isso não vem do despreparo.
vem da falta de Gentileza.
a gente vira mãe, mas continua culpando a nossa por algumas faltas aqui dentro.
mas com a clareza de quem entende que a culpa não é da pessoa mãe, e sim da estrutura familiar que ela e seu companheiro nosso pai foram capazes de criar para nos criar. e que dentro dessa estrutura as falhas são super bem-vindas. elas ensinam. elas aproximam. elas aprimoram.
o problema é quando quem virou mãe carrega no seio materno as lembranças de um lar onde a Gentileza não morava. a falta dela se tornou tão normal que não é fácil perceber a dor que sua ausência traz.
a gente se acostumou com o grito como se fosse o novo falar da família moderna.
a gente adotou o insulto até nas relações mais fraternais.
briga de casal só na modalidade levantamento de voz, e os incomodados que se mudem. mas e quando os incomodados são os filhos? ah. esquecemos que provavelmente se os pais levam os desentendimentos aos berros e bateções de porta, os filhos já até se acostumaram e aprenderam a imitar o tom do dissabor.
aprenderam a imitar com certeza, se acostumaram talvez, mas definitivamente não aprovam e criam um nó na parte de dentro que é difícil de desatar com o tempo, é feito criança que decorou uma tabuada deturpada. e quando crescem, acabam perpetuando essa falta. a de Gentileza.

e é difícil mesmo fazer diferente, quando já se sabe de cor. o que a família ensina a gente aprende assim, de coração. e o que se sabe de coração é pra sempre.
pra mudar é preciso coragem, paciência, disposição, vontade. mas o essencial, amor, o filho já traz. então o resto acaba ficando mais fácil. mesmo sendo ainda uma das coisas mais difíceis, aprender tudo de novo, diferente, quando já estamos crescidos, com coração grande.
então, é melhor quando já aprendemos de coração pequeno a colocar a Gentileza no cotidiano, no sorriso, nas entranhas. pra que ela apareça em cada atitude nossa, mesmo nas horas de firmeza.
pra que saibamos discutir sem levantar a voz, pra que saibamos ensinar sem bater, pra que saibamos ser pais com respeito, pra que saibamos criar nossos filhos pra serem adultos felizes.
porque a falta de Gentileza faz faltar felicidade.
é feito inseticida que espalha com o vento.
feito bueiro entupido que não deixa escoar a água da tempestade, que ao invés de passar, transborda, e com o tempo, acaba alagando o lar de uma família inteira.

G e n t i l e z a.

sim.




quinta-feira, 26 de julho de 2012

Amor de vó

Avó é mãe duas vezes.
Vó, é mãe com açúcar.
Mãe educa, vó estraga.

Estraga mesmo?

A vó também educa, mas a educação dela é bem específica, restrita à parte toda que o amor nos ocupa.
A vovó ensina sobre o amor. Tem vó que nos faz nutrir o amor pela culinária, tem vó que nos coloca a música no coração. Ainda tem avó que costura, e que nos faz amar os panos e linhas e pontos de cruz. 
Tem avó que nos ensina sobre a arte de amar a arte, vovó que nos inspira a amar a ideia de ter um mundo inteiro pra conhecer, avó que nos abre o coração prum caminho sem volta de amar as letras os livros as leituras até de rodapé. 

Tem as minhas avós, que me ensinaram um pouco de tudo isso, e que hoje, me ensinam sobre o amor que pode vir das lembranças, e que mesmo que sem ar por afundar no esquecimento, sobre o amor que vale a pena, o que fica, que é o que nos faz ir à tona pra encher o pulmão do coração de vida.

E tem uma avó que é muito especial. É aquela que você teve o prazer de conhecer quando ainda dava os primeiros passos nessa trilha, de acompanhar de perto enquanto essa mudança acontecia em seu coração e ver o tempo transformar a mulher mãe em mulher avó. Aquela que se tornou a avó do seu filho, e que de uma forma um pouco estranha, um tanto boa, e meio mágica, se tornou ainda mais sua mãe.
É ela que te mostra como funciona esse dom de amar que as avós todas tem.
O de ensinar o amor, pelo simples fato de terem um amor imenso transbordando todo pela pele que envolve três corpos, o dela, o seu, o dele. 
A nossa mãe, aquela que ajudou a fazer a mãe que somos hoje, aquela que nos deu a luz pra que enxergássemos com nossos próprios olhos, aquela que é avó do seu filho, e que vai viver essa relação deliciosa, de ensinar a amar a música, a comida, as viagens, as lembranças, as brincadeiras de outrora, as histórias, o outro, a lua, a vida.

Avó, é amor à vida.

Parabéns. 

Às minhas, às do meu filho, às emprestadas, às amigas, às suas: ver a vida pulsar amor em vocês, emociona.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Real imaginário.

Interrompemos nossa programação para um informe extraordinário:

Este blog não é fruto da minha imaginação.
Todos os seus posts são fruto de memória interna e externa da maternidade que vos fala e alheia - Inclusive, seus relatos são ouro pro meu coração e os recebo de mãos em conchinha, pra que não caiam por aí.
Todos os fatos relatados são hipoteticamente verdadeiros ou não, cabendo a você, querido leitor, querer se identificar com eles ou não, sorrindo ou não.
Ele não segue o modelo querido diário - lê-se: você não encontrará detalhes sórdidos da minha intimidade.
E eu ainda não me apresentei:

Tenho um menino. Um não, o meu.
Tenho um novo coração que cresceu em mim que bate acelerado até quando está dormindo e mais ainda quando ele está dormindo. Eu o amo mais quando está dormindo, se isso for possível.
Tenho vinte e poucos anos e somei uns quinze virando mãe solteira no auge da juventude carioca.
Tenho uma ótima relação com o pai do meu filho, aquele outro jovem que não somou os mesmos quinze anos mas que me deu a mão nessa estrada esburacada  cor de azul do céu que leva até o coração do pequeno. E tenho amor imenso por esses dois juntos.
Tenho amigos e uma família incrível, uma mãe incrível, um pai incrível, que viraram avós mais incríveis ainda.

São meus detalhes divididos.

Agora, seguindo com mais um pouquinho de intimidade colorida, daquelas divertidas que podem se espalhar por aí:

Tenho também um marido.
Mas ele é nômade. Ele não mora comigo. Ele não mora.
Se encosta onde bem quiser, e escolhe se encostar na minha esquina de vez em quando.
Ele usa peruca branca de cabelos cacheados na altura do ombro, e uma camisa preta onde o Pink e o Cérebro planejam dominar o mundo. Ele, trata de dominar sua esquina.
O dono do churrasquinho, elegeu como pai.
Ô pai! - grita ele.
Como deve ter perdido o seu nessas divididas de vida, tratou de escolher outro.
E eu, virei sua branquinha.
"Ô minha branquinha!". Ele é preto.

Tudo começou quando voltava de um passeio com o filhote no carrinho, e ele me parou pra mostrar uma foto de um menino de uns 3 anos em alguma campanha publicitária de bebê em revista, na página que ele havia arrancado e guardado só pra mim.
Disse: Olha, igualzinho a ela (o meu menino não tinha nem um ano).
Aham, com um sorrisinho respondi.
E morri de rir por dentro, numa alegria boa.

Dia seguinte, outro tempo, mesma esquina onde passo:
- Demorou pra descer hoje, meu amor! Tenho um presente pra ela, mas na volta eu entrego.
Fiquei curiosa, mas na volta, ele já tinha partido.
Nos deixou.

Até hoje não sei o que era. O carrinho dele guardava tantas coisas..
Minha lembrança arquivou a peruca, e um coração de pelúcia, que adoça a vida de viver tendo que escolher sempre novos parentes. 

E ele vem com a chuva.
Se esquece do presente.
Mas ainda me chama de branquinha quando passo com meu menino, a menina dele.