Tô grávida.
PARABÉÉNS!
É.
Normalmente é assim.
Mas temos visto crescer exponencialmente o número de mamães novinhas lidando com uma gravidez inesperada. Talvez estejamos numa época em que isso não seja mais tão escandaloso (pros outros né ;), e a pressão pro aborto diminui.
Sem importar o que foi que resultou nesse bum de mães que mais parecem irmãs mais velhas, além do sexo né, fofa?!, o fator altera um pouco o resultado.
Quando você casa ou junta os trapos, curte a lua de mel e a vida a dois, avança lá quase ou dez anos a casa dos vinte, jogou o jogo da vida direitinho e já tem renda suficiente pra comprar o filho sem sufoco, a gravidez é o passo seguinte que a família e a sociedade toda está esperando.
Se você resolve que o trabalho te completa e que seus sobrinhos suprem sua carência maternal, vai ganhar um belo dum aaah, ela não quer ter filhos da sua mãe quando forem cobrar os netinhos, seguido de um olharzinho tão torto que envesga.
Se você não resolve nada além de camisinha pra que?, e engravida antes de ter chegado no lugar certo do tabuleiro, o olhar torto muda praquela expressão de confusão de quem quer dizer parabéns e tá pensando tadinha, meus pêsames.
Então, imagina só os amigos despudorados livres do bom senso do senso comum:
Tô grávida.
MEUS PÊSAMES.
Você, que só de falar que tá grávida já chora, ia passar os seis primeiros meses com o seu filho aos prantos.
E também tem isso, a moça de família pertinho da casa dos trinta anuncia sua gravidez às festas. Você, linda e jovem que ainda não tá nem preparada pra desgarrar dos vinte, não tem como esconder sua cara de fodeu, seguida de lágrimas sofridas, ao anunciar pra galera que cresce no seu ventre uma pessoinha que você não sabe nem onde vai cair viva!
Aí a sua ginecologista obstetra diz que vai dar tudo certo.
A sua mãe também.
E a irmã.
As amigas.
O pai do feijãozinho.
.
.
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Mas você não consegue parar de pensar: será? Porque quanto mais a barriga vira melancia, mais se concretiza aquela realidade pra você. A mãe é mãe desde o primeiro dia de gravidez. Diferente do pai que oficializa o título quando o bebê traz sua pele pra sentir aqui fora, mamãe já sente as transformações que o corpo faz pra ir preparando tudo pra chegada do pequeno, e já consegue visualizar o quanto aquela mudança definitiva afeta tudo ao seu redor. E depois que o filho nasce percebe o quanto aquela visão era embaçada feito olho aberto em água turva, e como não dá pra prever nada do que vai acontecer quando se dá a luz.
A única coisa que as duas gravidez, a avisada e a desavisada, tem em comum, é que é impossível estar totalmente preparada pro próximo passo. Você pode ler todos os livros, escutar todas as mães, assistir todas as palestras, ver todos os filmes, fazer todas as aulas de lamaze, yoga, como-ser-zen-durante-o-parto-normal que forem, na hora H você vai se sentir como se sentem todas as mães de primeira viagem: perdida, totalmente.
É engraçado - hoje que já faz um ano porque na hora não tem a menor graça - como essa dança desengonçada de mãe e filho vai virando coreografia pruma vida inteira. Como os ruídos do recém nascido, o chorinho desenfreado, o som da maternidade, vão afinando no tom dos dois pra virar trilha sonora da eternidade. E mais engraçado é a gente constatar que elas, as mães preparadas, que fizeram tratamento pra engravidar, que tinham juntado dinheiro pra fazer enxoval com os gringos, que tinham até um quarto na casa própria pra decorar pro filhote, e um carro pra sair do hospital, são as que mais tem história de eu chorei o primeiro mês inteiro pra contar.
Opa, então descobrimos pelo menos uma vantagem em parir o filhote no susto da juventude: nós acabamos nos tornando mais fortes durante a gravidez.
Veja bem, mãe que é mãe sabe que é mais macho que todo homem, que vira mulher fêmea no sentido mais animal que se possa dar à espécie quando nasce o rebento, sente que tudo o que aconteceu foi pra que se chegasse até esse momento, e mamãe aqui também sabe do muque que todas nós cultivamos na alma, e que nada são só flores em qualquer gravidez, parto e maternidade, independente de como foi a estrada que cada mãe percorreu até o filhote.
É só que as novinhas e/ou de gestação inesperada precisaram lidar com questões diferentes e até em aborto se viram muitas vezes obrigadas a pensar por não ter condições de criar um bebê naquele momento. E parece que a maturidade chega aos tropeços tão rápido que nos presenteia com três rugas antes mesmo da hora do parto, parece que precisamos desde já ir reunindo aquela força invisível que fica escondida engavetada seiláonde aqui dentro pra carregar aquele bebê e ainda lidar com o nervoso dos parentes + o pai do bebê esfregando na sua cara uma juventude que você tinha e que hoje cadê? ou tão imaturo que coitada!, parece que agigantamos em corpo alma e coração porque passamos a ser aquele amor que carregamos aqui dentro.
Pode parecer tanta coisa, mas eu já sei o que é.
É que pra nós, quando ele chega, ele também diz que vai dar tudo certo.
Mas é a primeira vez que a gente acredita.
(Ou, já choramos tanto que perdemos as lágrimas).
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